segunda-feira, setembro 19, 2005

Um exemplo a seguir

Quando os portugueses pensam no Brasil surgem logo três conceitos: praia, violência e pobreza. Mas apesar desse país ser considerado do Terceiro Mundo, Portugal devia aprender algumas coisas com ele no que diz respeito às pessoas que são diferentes do comum dos mortais.
Aqui há um grande respeito pelas diferenças de cada um, seja ao nível da deficiência, raça, religião, entre outros. Mas o que me traz aqui hoje é a questão das pessoas com deficiência.
Tanto ao nível das infra-estruturas como dos transportes públicos, São Paulo tem bastante consideração por aqueles que, por um motivo ou outro, têm dificuldades na locomoção. Por exemplo, os ônibus têm uma entrada especial para pessoas em cadeiras de rodas e estas podem sair quando quiserem e não apenas nas paragens obrigatórias. Já os metrôs têm elevadores e, no caso da pessoa ser invisual, há um funcionário que o acompanha até à linha onde pretende viajar.
Posso estar muito enganada, mas Portugal está muito aquém do Brasil no que diz respeito à valorização das condições de vida das pessoas que têm estes problemas. Claro que há sempre alguém simpático que ajuda, mas isso não é suficiente. Há que deixar de ignorar estes problemas porque eles são uma realidade no nosso país. Estas pessoas não são um empecilho e têm tanto direito a ter uma vida digna como qualquer um de nós. Para quando o respeito?

Sofistas

Comecei a ler este fim-de-semana "O Mundo de Sofia", de Jostein Gaarder, um livro que fez sucesso pelo mundo inteiro. Eu adoro ler, mas, de facto, ainda não tinha tido coragem para pegar nele.
O capítulo que li ontem foi sobre os sofistas e Sócrates que viveram na Grécia Antiga. O autor tocava num ponto interessante: hoje em dia há muitos sofistas (e poucos filósofos).
Os sofistas eram aqueles que tinham a capacidade da retórica (arte de falar em público). Eram capazes de convencer as pessoas que a parede branca, era, de facto, preta. Achavam que eram os maiores do mundo, detentores da verdade, e que tudo sabiam. Muito ao contrário de Sócrates.
Portugal tem muitos sofistas...muitas pessoas que se acham uns cérebros e, invadidos pela arrogância, se sentem seres superiores. Houve uma altura em que isso me perturbou, mas depois de ler o capítulo de ontem apenas tenho pena dessas pessoas. São umas frustradas e só conseguem estarem bem olhando os outros de cima. Essas pessoas que acham que sabem tudo, estes fazedores de opinião que estão nos meios de comunicação, na escola e na política, de facto, não sabem nada das coisas. Pensam que sabem e daí acharem que ocupam um estatuto proeminente na sociedade. Deixai-os estar, pobres coitados. Vamos encontrar muitos ao longo da nossa vida.
Claro que há excepções...Lembro, com ternura e deslumbramento, o meu professor de Cultura Portuguesa. Ficava extasiada com as suas aulas dadas com tanto amor e dedicação. Era capaz de falar sobre tudo: desde a origem do universo até aos grandes cafés de Lisboa. Aquelas aulas eram uma delícia e ele incutia, em nós, o gosto por saber mais e mais. Ao mesmo tempo, humilde, transmitia a ideia que ainda tinha muito para aprender...Ah, e como eu adorava quando ele citava frases de grandes personalidades.
E termino o post com uma de Voltaire "Posso ser contra aquilo que tu dizes, mas lutarei até à morte para que o possas dizer".

sexta-feira, setembro 16, 2005

Viva

Já estou em São Paulo (Brasil) há um mês e, o que é engraçado, não tenho saudades nenhumas de Portugal. Quer dizer, posso ter saudades de algumas pessoas, mas não é nada que uma pessoa não aguente.
De facto, aqui estou bem longe dos problemas que me perseguem no meu país. Para além disso, gosto muito mais dos brasileiros do que dos portugueses. Sim, esta é a minha verdade. É que eu ligo muito aos pequenos pormenores...
Costuma-se dizer que os portugueses são hospitaleiros. Até podem ser, mas para os de fora. Por exemplo, adoro tomar café, então chego a um, digo "bom dia" e peço uma bica. Como resposta tenho um bom dia dito entre os dentes, isto quando alguém responde, e um café dado com aquele ar que me fez um grande favor.
Aqui no Brasil, chego a um café e ou me dizem logo "bom dia" ou, quando eu digo, respondem-me com um sorriso. É formidável!
Aqui as pessoas estão sempre prontas para ajudarem os outros quebrando a solidão que, muitas vezes, invade cada um de nós. Conhece-se uma pessoa no ônibus ou no metrô, por exemplo, e começa-se a falar com ela, uma conversa gostosa que só faz bem ao espírito. Isso não acontece em Portugal, porque os lusos são bem mais desconfiados e introvertidos. Tudo bem, eu sou lusa, mas gosto de sentir esta energia maravilhosa do povo brasileiro!
No que diz respeito à cidade, por acaso, nunca fui de muita confusão, mas sinto-me feliz rodeada de prédios enormes e de inúmeros carros. Sinto-me leve, livre. Sinto-me bem!
Depois, o ambiente no jornal onde estou é muito bom, nem se compara com a rádio onde estagiei. As pessoas são muito queridas, simpáticas e prontas a ajudar. Apesar de eu ser bem mais fechada do que o típico brasileiro, não dá para não ficar contagiada com a energia deste povo!
No jornal, comecei por estar duas semanas na editoria Ilustrada (Cultura) e depois fui para o Quotidiano. Devo fica aqui até me ir embora. Aliás, era para ir para Portugal daqui a poucos dias, mas como estou a gostar tanto do trabalho, das pessoas e da cidade, pedi para ficar mais um tempinho. E consegui: vou ficar cá mais um mês.
No Quotidiano tem sido bem mais agitado do que na Ilustrada, apesar de ter gostado bastante da outra editoria. Mas aqui saio mais com os meus colegas e conheço melhor a relaidade brasileira. Estou inquieta é para que saiam artigos meus no jornal! :)
Por fim, estou a ficar, em São Paulo, num apartamento de duas meninas que são umas queridas. Vim para cá completamente à maluca, sem saber como elas eram e vice-versa, mas estou a gostar muito da companhia delas!
Ai, se eu pudesse, se eu tivesse mais coragem, ficava por cá! Quer dizer, tinha de ver se arranjava um emprego como jornalista e tal (algo que também tenho de fazer quando regressar a Portugal)...Começo a divagar, mas depois acordo e percebo que esta não é a minha realidade, por mais que eu queira que ela seja, visto que estou bastante decepcionada com algumas coisas que aconteceram no meu país.
Muita coisa pode acontecer de hoje em diante, mas esta experiência tem sido muito importante para mim, em termos profissionais e pessoais. Quando me for embora vou ter uma lágrima no canto do olho, mas por dentro estarei a transbordar de felicidade por Deus ter-me dado esta oportunidade, quem sabe, a oportunidade da minha vida! Sim, porque aqui sinto-me VIVA!

Statu Quo

Já há muito tempo que não escrevia por estas bandas, mas hoje deu-me uma vontade enorme de desabafar.
Esta semana recebi a última nota do meu curso. Tive 14 no estágio que fiz numa rádio de Portugal. Claro que podia ter tido uma nota pior, mas algo fez com que ficasse revoltada. Sempre me esforcei e trabalhei para alcançar os meus objectivos. Foi com base nessa postura que consegui ter boas notas em muitas cadeiras e ser a segunda melhor aluna do curso. Mas depois veio o estágio...
Estava com dúvidas do local que deveria escolher...Nem sabia se havia de ser rádio ou imprensa. Depois de ponderar o caso, acabei por escolher uma rádio devido à sua reputação e localização, até porque não ouvia falar muito bem do ambiente nos jornais. E foi aí que tudo começou.
Apesar de ter aprendido bastante lá na rádio, ainda bem que já chegou ao fim. Nem vou falar no horário que era péssimo. Nos primeiros dois meses acordava às 4 e meia da manhã para ir para a redacção e sentar-me à frente do computador. Não, nem era isso. O ambiente era mau e os colegas tratavam-me com desprezo ou, então, mostrando que estavam a fazer-me um favor por estar lá. Bem, no último mês as coisas melhoraram porque mudei para o turno da noite onde os colegas eram bem mais porreiros. De alguns sinto saudades...
O grande problema surgiu com o meu orientador de estágios que não orientava coisíssima nenhuma. Todos os estagiários que estavam lá achavam isso, mas quem falou fui eu. Lixei-me.
Tudo começou quando decidi mandar dois mails sobre comunicação para o pessoal da rádio, com a melhor das intenções.
Um dia, chego à redacção, e tenho um mail do tal orientador. Um mail que reprovava a minha conduta e tecia mais algumas críticas que já nem me lembro.
Irritada por estar a ser criticada, quando nunca fui informada que não era permitido mandar mails para o pessoal, respondi-lhe dizendo que a questão partia dele porque nunca nos tinha orientado como devia. E, claro, aproveitei para irritá-lo, acusando-o de censura.
Bem, o mail gerou uma enorme confusão. Ele chamou-me e começou a discutir comigo, vermelho como um tomate. Eu tentei manter a calma, mas claro que estava nervosa. No final da conversa, perguntei-lhe se ele me ia prejudicar na nota, ao que ele respondeu que não.
Mas as coisas não acabaram por aí. Depois veio falar comigo o meu orientador de estágio da universidade, acusando-me de imatura e que não devia ter feito nada daquilo. Ainda por cima, eu, que era uma das melhores alunas. No fundo, ele tinha era medo de perder aquela empresa como receptora de estagiários...Sim, porque eu era a única pessoa que criticava o local onde estava. Os outros que estavam comigo não diziam nada e o resto do pessoal que estava noutros meios de comunicação estava a gostar. Ok, a frustrada era eu.
O tempo passou e eu continuei lá na rádio, esforçando-me para arranjar trabalhos e sabendo que falavam mal de mim nas minhas costas. Não sei se também era por causa do mail, mas acima de tudo, era pelo facto de eu perguntar às pessoas se precisavam de ajuda e também por ficar na redacção até mais tarde. Houve vezes que fiquei desde as 6 da manhã às 6 da tarde na rádio. Chagava a casa completamente KO. Aliás, ao longo dos primeiros dois meses nem tinha vida própria porque quando chegava a casa era para dormir. Para completar o quadro, fazia trabalhos para jornalistas e eles em vez de pôrem o meu nome, colocavam apenas o nome deles! Claro que houve excepções, mas não há palavras...
Por fim, os três meses de estágio chegaram ao fim....Mas faltava a nota final. Nota essa que recebi na Terça-feira. E claro, já estava à espera, foi uma nota razoável. Razoável?!
Pois, pelo que eu percebi do que o orientador da universidade disse, quem tinha as notas mais baixas não devia escrever muito bem, o que era inaceitável para alunos de Comunicação. Isto porque tínhamos de entregar um relatório final.
Eu posso ser uma complexada, em relação a muitos aspectos, mas desde pequena que me dizem que escrevo bem. Até tive um professor na universidade que me escrevia isso nos testes! Vão-se catar!
É verdade que cada orientador dá notas diferentes o que, à partida, não é muito justo para os alunos. Estive a dar uma vista de olhos nas notas e elas até que são mais ou menos boas...Pelos vistos que é honesta é quem se lixa. Típico de um país com poucos anos de democracia. E o que mais me admira é que quem me lixou tem a idade daqueles que lutaram pelo derrube do regime.
O que é que uma pessoa conclui? Sê mosca morta, não levantes ondas, porque assim passas indiferente e ninguém te chateia.
O problema é que eu não sou assim. Talvez tenha que levar mais pontapés para mudar ou, quem sabe, nunca mude. O que importa é que seja fiel ao meu espírito porque esse, eles, não conseguem matar.